Mini-bio: Relações Públicas. Mestre em Ciências da Comunicação.
A maternidade é um tema que atinge 100% das mulheres, se não no mundo, no Brasil com certeza. Querendo ou não gerar ou adotar um ser humaninho, não importa, ser mãe, ou não ser, é sempre a questão.
Essa semana encontrei uma amiga na rua. Ela carregava algumas sacolas, eu brinquei com pedindo uma parte das compras. E o que era para ser um pequeno momento de descontração entre duas pessoas que não se viam há algum tempo, virou quase uma sessão de terapia.
Em tom de desabafo, ela disse que desde que se tornou mãe, nunca mais conseguiu ter um tempo para si, como antes. Até aquela esticadinha, com os colegas de trabalho, depois de um dia tenso, se tornou inexistente.
Toda essa conversa me fez lembrar de duas outras amigas, que são professoras e estavam, à época, na correria para entregar suas respectivas teses de doutoramento. Nos encontramos num evento sobre maternidade e ciências, na ocasião elas reclamavam o quão é injusto a carreira acadêmica para as mães, pois o Lattes não considera os trabalhos extracurriculares a que uma mãe está submetida.
Isso me ligou à cena da Deputada Federal Talíria Petrone com seu bebê na sessão na CPI do MST, na Câmara dos Deputados. Assim como a, também Deputada Federal, Sâmia Bonfim que falava no plenário da Casa Legislativa com seu filho no colo. Ambas foram duramente criticadas por essas atitudes.
E num passado recente, Manuela D´ávila sofreu com as ameaças cruéis por fazer campanha eleitoral levando a filha à tiracolo. Na ocasião ela disputava a vice-presidência na chapa com Fernando Haddad, em 2018.
Esses casos retratam a realidade de um grupo de mulheres, que tem muitos privilégios, como o de contarem com companheiros na divisão de tarefas, bem como condições financeiras e materiais para desempenhar de alguma forma suas atividades profissionais.
Mas há outro imenso grupo de mulheres que ao se tornarem mães são abandonadas pelos genitores de seus filhos, ficando numa situação bem difícil para manter o sustento da família. E quando essas mulheres não possuem qualificação profissional, que as permitam disputar uma vaga com salários melhores, tudo fica mais difícil. Lembrei de Carolina Maria de Jesus e o livro que ela escreveu, “O Quarto do Despejo”.
Há um outro grupo de mulheres que decidem não ser mães, por motivos diversos, e são cobradas a se explicar por essa decisão. É como se não fosse permitido a uma mulher essa escolha, que mais parece uma obrigação. A atriz Aracy Balabanian, falecida essa semana, foi exposta na manchete de um grande jornal, por um aborto que teria feito na juventude porque queria se dedicar totalmente à carreira artística.
O que todos esses grupos têm em comum é o fato de serem constantemente invadidos na sua condição de mulher e/ou de mãe. Todas essas mulheres têm suas condutas questionadas o tempo inteiro. São confrontadas com um ideal impossível de maternidade.
Nesse momento me veio à mente aquele velho dito popular “ser mãe é padecer no paraíso”. É uma simples frase, mas chega a ser perversa. Ela dá a entender que tudo bem sofrer, sentir dor, se ausentar de si, ou qualquer outro sacrifício, em nome da maternidade. Credo!
É preciso desmistificar esse tal paraíso e criar políticas públicas mais eficientes, que permitam às mulheres, que sejam mães ou aquelas que decidem não ser mães, maior segurança para trabalharem e estudarem, tendo assim mais condições de disputarem oportunidades de trabalho.
Por tudo isso, as mulheres precisam ocupar cada vez mais o sistema político e se tornarem vereadoras, deputadas, prefeitas, senadoras, governadoras, presidentas. E que sejam mulheres comprometidas com as pautas de equidade de acesso à educação, saúde, segurança pública para todos, todas e todes.