19/07/2023 às 18h18min - Atualizada em 19/07/2023 às 18h18min

Condenado em liberdade

O $tuprador livre e suas vítimas que lutem para sair da prisão de seus traumas

Luciana Hage

Luciana Hage

Mini-bio: Relações Públicas. Mestre em Ciências da Comunicação.

O Fantástico do último domingo (16) veiculou uma matéria extensa sobre o caso de $tupro envolvendo o ex-BBB Felipe Prior. O caso já havia sido amplamente divulgado em 2020, logo após a saída do “distinto” rapaz do reality show.

A novidade é que ele foi condenado, em primeira instância, a uma pena de 6 anos, em regime semiaberto. Ou seja, trabalha de dia e a noite dorme na penitenciária. Assim fica parecendo uma colônia de férias, não é?

Mas, ok, alguma justiça será melhor que nenhuma. No entanto, nem por isso é menos revoltante. A fala da vítima sobre o estado de suas partes íntimas, que ficaram dilaceradas pela fricção da penetração forçada, é muito doloroso. Marcas físicas e emocionais que essa mulher jamais vai esquecer.

E quando ela disse que ficou anos sem conseguir falar sobre o caso, alimentando uma culpa inexistente e com a esperança de que esqueceria o sofrimento, mostra a dimensão do trauma. Essa culpa, que se junta com o medo do julgamento alheio, também é consequência da violência.

O patriarcado é, mesmo, um sistema social muito eficiente. Ele introjeta, como regra, nas dinâmicas do cotidiano, que as mulheres têm de carregar a culpa por terem seus corpos invadidos e violentados pela sanha de poder de um homem.

Tanto faz se elas estiverem trajando vestidos longos ou curtos; se tiverem com pouca roupa ou nuas; se sóbrias ou embriagadas; se cristãs ou ateias; nada é capaz de conter o ímpeto animalesco do homem que não aceita um NÃO como resposta.

E não importa se esse NÃO for dito no início da investida ou no momento em que a mulher esteja no quarto (no carro, ou qualquer outro lugar), jamais ele aceitará essa negativa. Porque para esse indivíduo ela passa a ser um pedaço de carne que deve ser devorada.

Mesmo com provas robustas, o que costuma ser raro em casos como esse, como: laudos e testemunhas, há quem duvide da versão da vítima de Prior, alegando que o único interesse dela seria o de ficar famosa e rica com a repercussão do caso. Mais uma estratégia do patriarcado.

Foi assim com o caso de Robinho, Cuca e Daniel Alves, só pra citar alguns. E a pergunta que fica é: onde estão as mulheres que foram vítimas desses homens? Com certeza não estão sob os holofotes de suas profissões, ganhando milhões de dinheiros por ano.

Todos os dias meninas e mulheres são $tupradas no mundo, mas as denúncias são insignificantes e os fatores são muitos. Desde a dificuldade em provar o ocorrido, o poder aquisitivo dos criminosos, até a proximidade que se pode ter com eles. Tudo isso dificulta e inibe os registros de casos.

É preciso ter muita coragem para publicizar tamanha violência, ainda que seja no ambiente restrito. E se o criminoso gozar de algum prestígio público, tudo fica pior e a denúncia pode se virar contra a vítima, de maneira ainda mais violenta.

É preciso criar espaços de melhor acolhimento para que essas mulheres tenham a garantia de seus direitos assegurados. E mais, é preciso haver punições efetivas aos criminosos.

O caso de Felipe Prior não é exceção, infelizmente. Ele ainda está sendo acusado, pelo mesmo crime, por outras três mulheres. Brevemente a justiça deve julgar esses processos.

Que vença a justiça, sempre.
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