Mini-bio: Relações Públicas. Mestre em Ciências da Comunicação.
Os atributos artísticos de Elis Regina nunca foram questionados. A voz, a forma como ela interpretava as canções e, principalmente, a maneira com qual ela encantava os públicos nos palcos da vida sempre são pontuados com admiração pelos fãs e críticos até hoje.
O filme Elis, lançado em 2016, é dirigido por Hugo Prata e traz um recorte da história da artista desde o início de sua trajetória. É lógico que uma obra como essa não tem a pretensão de dizer tudo sobre a protagonista, mas entregou ao público os principais pontos da breve vida de Elis.
Andréa Horta, que interpreta a artista, entrega um trabalho digno das premiações que recebeu. É emocionante, é revoltante em alguns momentos e em outros a gente tem que engolir a raiva diante de tamanhos julgamentos a que ela foi submetida.
Tem um trecho muito importante que conta sobre a aproximação de Elis com o regime militar da época. Ela foi condenada pelos próprios colegas por conta disso. O que eles (sim, eles, porque a maioria eram homens) não foram capazes de entender os motivos que determinaram para tal circunstância.
Ser mulher a qualquer tempo da história não é fácil. Não foi para Eva e também não foi para Joana Darc, tampouco seria para Dandara e Sojourner Truth. Na arte lembremos de Nina Simone, Tina Tuner, Rita Lee, D. Inove Lara e tantas outras que para exercerem seus ofícios enfrentaram muitos julgamentos, a maioria de cunho moral e sexual.
Fica claro nessa obra que Elis era mesmo uma mulher atrevida, sem meias palavras e que exigia respeito para com sua arte. Características essas que se atribuída a um homem ganham contornos de profissionalismo e sinônimo de força.
Lady Gaga certa vez disse a um repórter que lhe perguntara sobre suas referências sexuais em suas performances nos palcos e nos seus clipes, ao que ela respondeu: “se eu fosse um cara e estivesse sentado aqui com você, com um cigarro na mão, segurando o saco e falando sobre como eu faço músicas porque adoro carros de corrida e f*der garotas, você me chamaria de rockystar”.
E é assim para todas as mulheres que se atrevem a adentrarem nos espaços onde os homens ainda têm maior presença, são reduzidas a um corpo e julgadas pelo falso moralismo. É assim nos ambientes corporativos de uma multinacional, no parlamento e no showbiz.
Elis foi uma mulher de talento imensurável, que encantou o país inteiro com sua voz potente. Gravou músicas de artistas desconhecidos, dando a eles notoriedade. Foi também uma mãe presente para seus três filhos e seus maridos.
Mesmo com todos esses atributos, os que mais ganhou destaque na grande mídia quando confirmada a morte de Elis foi a intensidade da sua vida privada. O álcool, os remédios e outras drogas ganharam as manchetes dos grandes veículos de comunicação, ofuscando toda a obra incrível da artista.
Quase que como um roteiro pré-determinado, Cássia Eller e Amy Winehouse sofreram com as mesmas estratégias após suas mortes. Definitivamente, não é fácil ser mulher no mundo, especialmente quando elas rompem com o protagonismo burro dos homens.
Elis, o filme, é uma opção linda para quem deseja conhecer, e revisitar, fatos da vida de Elis que são relevantes para a carreira dela e de muitos outros artistas da música brasileira. Fica a dica.