Para refletir sobre as violências a que estão submetidos os corpos que não “merecem” ser dignos de amor, a sugestão para esse final de semana é o filme “Preciosa”.
Prepara os lenços para suportar as fortes emoções.
O filme é de 2010, com direção de Lee Daniels e roteiro de Geoffrey Fletcher, e traz uma história de sofrimento de uma adolescente negra da periferia de Nova York, ambientada no ano de 1987.
Claireece "Preciosa" Jones tem 16 anos e é mãe de um menino portador da síndrome de Dawn, que foi apelidado cruelmente de “mongo”. A maternidade, obviamente, não foi planejada, tampouco fruto de uma noite de amor.
A jovem foi constantemente abusada sexualmente pelo pai e sofre com os abusos emocionais da mãe. A maneira que Preciosa encontrou para se defender de tantas situações ruins, as quais foi obrigada a encarar na vida, foi a de devolver ao mundo toda a raiva e irritabilidade que fizeram morada em seu coração. E por isso o mundo a ver como “problemática”.
E como se não bastasse tudo isso, ela engravida novamente, nas mesmas condições da primeira vez, e aí se torna um peso ainda maior para as pessoas ao seu redor. Ela é expulsa da escola e assim fica cada vez mais isolada e desorientada.
Ninguém compreende as dores dessa menina, que se vê rejeitada pela família, pela sociedade e pelo Estado, que é incapaz de protege-la. Ela é julgada e condenada por pessoas que são incapazes de enxerga-la como ela é e como ela vem sendo conduzida em sua vida.
Uma professora, compadecida pelo que aconteceu com Preciosa, a encaminha para uma escola alternativa, na tentativa de ajudá-la a passar pelos problemas de forma menos traumática. E nessa escola a menina encontra uma forma de se refugir dos traumas que a vida lhe deu e passa a exercitar sua imaginação.
Ou seja, a alternativa foi a fuga para um mundo paralelo, o da imaginação, onde as relações são mais respeitosas, amorosas e atenciosas. Na imaginação de Preciosa as pessoas a viam como um ser humano digno de ser amado.
Trata-se de um filme denso, cheio de conflitos e violências cruéis para qualquer pessoa, sobretudo para uma jovem, adolescente, que desde muito cedo foi submetida a dores nada fáceis de serem suportadas.
Os demarcadores sociais de Preciosa a colocam, sem dúvida, num local de maior vulnerabilidade. O que já seria difícil para qualquer pessoa, se potencializa pelo fato dela ser uma menina negra, pobre e gorda, que vive numa sociedade racista, classista e gordofóbica.
O filme escancara as dinâmicas sociais que impõem aos corpos negros, gordos e pobres as maiores dificuldades para encarar as situações da vida. Uma sociedade que determina o que é belo e o que é digno de ser amado e respeitado. Uma sociedade cruel, que precisa se reconectar com a humanidade.
Boas reflexões para o final de semana. Boa sessão a todos, todas e todes!