21/04/2023 às 09h00min - Atualizada em 21/04/2023 às 09h00min

Um filme pra pensar sobre a branquitude

Entrelaçamentos, afetos e muita resistência das mulheres

Luciana Hage

Luciana Hage

Mini-bio: Relações Públicas. Mestre em Ciências da Comunicação.

Histórias Cruzadas é um filme de 2012, escrito e dirigido por Tate Taylor, que traz como protagonistas as premiadíssimas Viola Davis, Octavia Spencer e Emma Stone. Além de Jessica Chastian, Bryce Dallas Howard e Allison Janney.

Um filme rico, complexo e cheio de histórias que provocam um redemoinho de sentimentos. Entre revolta, raiva, medo, impotência e tristeza, é possível sentir também esperança, alegria e justiça, em alguma medida.

As mulheres são o centro e a margem desse roteiro. O núcleo do enredo gira em torno de uma escritora branca, Skeeter, e duas mulheres negras, empregadas domésticas em casas de famílias da alta sociedade local, Aibileen e Minny.

O cenário é a cidade de Jackson, no estado do Mississipi, nos anos de 1960. O lugar está mais ao sul dos EUA, as lutas raciais desse período estavam mais duras e exigiram maior resistência das pessoas negras.

Skeeter passa um tempo fora da cidade e retorna determinada a se tornar uma escritora, mas esbarra numa sociedade que a vê como com talentos suficientes para ser somente uma colunista de receitas caseiras em um jornal de notícias local ou no jornal paroquiano da igreja.

Frustrada, mas decidida a iniciar uma carreira, a jovem escritora pede ajuda à Aibileen, empregada doméstica que trabalha na casa de sua melhor amiga, para ajudá-la a decifrar algumas receitas a serem publicadas em sua coluna.
E é nesse encontro que Skeeter se depara com uma realidade que ignorou a vida inteira, a discriminação e o racismo a que estão submetidas as pessoas negras, especialmente as mulheres que cuidavam das crianças da sociedade.

A relação entre as duas personagens se intensifica demais e sai do tema corriqueiro da cozinha. Passaram, então, a falar sobre a vida das mulheres negras naquele contexto, onde eram responsáveis pelo cuidado das crianças e ao mesmo tempo eram tratadas como animais.

Os encontros, diante de tantos relatos duros e proibidos, passarem a ser clandestinos, para assim evitar maiores transtornos na vida de Aibileen, constantemente vigiada pela patroa. E com a ajuda de Minny, também empregada doméstica de outra família rica da cidade, Skeeter decide escrever seu primeiro livro, tendo essas mulheres como protagomistas.

Muitas reflexões podem surgir depois de assistir esse filme. É um choque muito necessário para compreender as dinâmicas da sociedade norte americana estadunidense, que foi capaz de produzir as mais cruéis violências contra pessoas negras naqueles anos.

Os reflexos do que aconteceu ao longo de séculos contra a população negra ainda ecoam nos dias de hoje. Com dinâmicas diferentes e contornos diversos, mas seguem ainda inferiorizando pessoas pela cor da pele e as colocando em maior vulnerabilidade social.

Nos EUA e no Brasil os índices de pessoas negras nas Universidades são demasiadamente inferiores em comparação as pessoas brancas, enquanto que a população carcerária é composta majoritariamente de homens negros jovens. Uma conta que não fecha e não pode ser normalizada com o discurso simplista, sem olhar para a história.

Pensar sobre isso e sobre como se pode contribuir para uma sociedade efetivamente mais justa e igual para todas as pessoas se faz urgente. Nunca houve razão alguma para manter uma sociedade onde apenas um grupo é beneficiado com possibilidades de acessos dignos à cidadania. Esse é um problema para as pessoas com privilégios resolverem.

Histórias Cruzadas pode ser um bom “sacode” para toda a sociedade mundo afora. É um filme forte, carregado de emoções. Preparem os lenços e boa sessão!
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