Quem cuida de quem cuida? Maio furta-cor quer sensibilizar sobre saúde mental das mães

Campanha nacional terá programação em Belém

Mayra Leal
10/05/2022 09h23 - Atualizado em 10/05/2022 às 09h23

Quem cuida de quem cuida? Maio furta-cor quer sensibilizar sobre saúde mental das mães
Arte: Divulgação
Ser mãe pode ser lindo, solitário, assustador, intenso, emocionante, feliz, doloroso. E pode também ser tudo isso ao mesmo tempo. Não há um sentimento absoluto que defina a maternidade. Se comparado a um espectro visível, não há uma cor única e quando lançamos o olhar para o significado de ser mãe, ele se altera de acordo com cada experiência e história, como a furta-cor.

É desse princípio que parte o nome da campanha que quer sensibilizar a população a respeito da saúde mental materna, o Maio Furta-cor. A campanha idealizada pela psiquiatra Patrícia Piper e a psicóloga Nicole Cristino reúne ações em todo o Brasil em prol de uma causa: a necessidade de cuidar de quem cuida. Em Belém, a iniciativa foi abraçada por um grupo de profissionais da saúde, que está realizando ações de conscientização sobre  o assunto. O dia D ocorre em 15 de maio, quando haverá marcha pela causa em todo o Brasil. Em Belém, o ato será na Praça da República.


Pandemia e adoecimento mental

Uma das profissionais à frente das ações em Belém é a psicóloga e mãe Érika Souza. Especialista em perinatalidade e parentalidade (área de atuação e produção de conhecimento sobre o período pós nascimento), a profissional conta que mesmo a discussão sobre a saúde mental materna sendo anterior, o aumento de casos de ansiedade e depressão por causa da pandemia, e da procura por atendimento psicológico, tornou ainda mais necessário falar sobre o assunto. “Nós sabemos que tem muitos estigmas em torno dos adoecimentos mentais de forma geral, e quando a gente fala da maternidade isso piora. Porque afinal de contas a mulher tem que estar plena, tem que estar feliz por estar grávida, é uma benção por ela ter um filho, ela não deveria reclamar de cansaço, nem de nada. Então existe uma pressão social ainda maior para que essa mulher esteja sempre bem e feliz”, destaca Érika.



A psicóloga Laís Schuster, que também é mãe de três crianças, é uma das profissionais que abraçou a campanha. Como profissional, vê diariamente no consultório as dificuldades que a sobrecarga materna impõe nas mães. “Quando a mulher se torna mãe ela passa por inúmeras transformações e elas são muito desafiadoras porque vão muito além do físico. A sociedade impõe que a mãe seja aquela que dá conta de tudo e de todos e se sobrar um tempinho, que nunca sobra, ela olhe pra si”, ressalta.



Para Laís, a campanha também pretende ser um espaço para que as mães possam dividir umas com as outras os anseios e dores que envolvem o maternar, formando uma grande rede de apoio. “Já tive minha saúde mental fragilizada e por muito tempo desvalidada - por mim mesma, principalmente -, já senti o peso da solidão e da sobrecarga materna, porque socialmente a gente aprende que a mãe é aquela que cuida, não a que é cuidada, é aquela que padece no paraíso e tem que padecer sem reclamar, porque quando falamos do nosso cansaço não somos validadas ou somos taxadas como mães ruins e que estão cansadas de ser mãe”, conta.

Entre as várias reflexões que a campanha quer trazer, está a discussão a respeito da sobrecarrega materna, dentro de uma realidade em que a mulher precisa conciliar a maternidade, com o trabalho remunerado, cuidados com a casa, entre outras atividades.  “Existe uma frase que diz ‘trabalhe como se você não tivesse filhos e cuide dos seus filhos como se você não trabalhasse’ e a gente sabe que é humanamente impossível dar conta de tudo. Assim como tem as mulheres que querem parar de trabalhar para cuidar dos filhos, existem as mulheres que não querem parar de trabalhar, que querem voltar à vida ativa e, às vezes, essas mulheres são vistas como ingratas, irresponsáveis”, destaca Erika Souza.

Mãe também precisa de colo

Foi pensando na saúde mental materna que o Grupo Terapêutico Colo de Mãe foi criado, no ano passado. O espaço que pretende gerar acolhimento entre mulheres, a partir do compartilhamento sobre as dificuldades da maternidade, foi idealizado por Laís e sua irmã Louise Sandres, terapeuta ocupacional e também  mãe. A iniciativa parte da escuta terapêutica para promover a troca de ideias e a criação de estratégias de enfrentamento e de autocuidado para tornar o maternar mais leve.



Laís explica que o nome “Colo de mãe” faz alusão a este lugar onde profissionais e mães podem colocar outras mães no colo. “Sabemos que cansa, a responsabilidade de criar e educar outro ser humano junto a outras demandas cotidianas, é pesada, especialmente vivenciando tempos pandêmicos, com o isolamento, o distanciamento social, o medo, afetando diretamente a saúde mental de todos. Às vezes é preciso encontrar ferramentas para lidar com essa carga”, ressalta.

Saiba mais sobre o grupo.

Maio Furta-cor em Belém

A programação da campanha em Belém já está realizando desde o começo do mês, atividades internas em clínicas e instituições públicas. A organização também  está programando eventos externos, como feirinhas para que mães empreendedoras possam divulgar seus trabalhos, além de outras atividades de conscientização em locais abertos, como shoppings e espaços públicos. No dia 15, a marcha pelo movimento será às 9h, na Praça da República, onde também serão realizadas diversas ações.

 

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