10/12/2022 às 17h40min - Atualizada em 10/12/2022 às 17h40min

Sejamos todos feministas porque o feminismo é para todo mundo

Luciana Hage

Reprodução
O título desse texto faz referência a duas importantes escritoras feministas, Chimamanda Ngozi Adichie e bell hooks. A primeira escreveu o “Sejamos Todos Feministas” e a segunda “O Feminismo é Para Todo Mundo”. Ambas trazem reflexões fundamentais sobre o entendimento desse movimento político para a sociedade do século XXI.

Mas antes de chegarmos nos dias atuais, se faz importante dizer que o feminismo se articula, enquanto movimento, no contexto da Europa do século XVIII, como resistência às novas demandas sociais da Revolução Industrial, que impôs mudanças cruciais, tanto na esfera pública quanto na privada, a partir do momento que mulheres passaram a sair de casa para trabalhar.


Assim também é necessário pontuar que bem antes das mulheres conseguirem se articular politicamente e pautarem suas demandas para a sociedade, elas nunca deixaram de reivindicar suas lutas por reconhecimento e equidade de direitos desde os primórdios da história. Silvia Federici, outra autora muito importante, em seus livros “O Calibã e a Bruxa” e “Mulheres e Caça às Bruxas” resgata cenários da idade média para falar da resistência de mulheres inglesas da época diante das opressões religiosas, por exemplo.

Tudo isso para dizer que o feminismo não é uma modinha de redes sociais digitais de agora, como tentam seus críticos desqualifica-lo. Por contrário. O feminismo é uma ferramenta vital para o equilíbrio de forças nas sociedades do mundo todo, mesmo antes de ser assim denominado.

O avanço da tecnologia permitiu uma amplidão dos debates sobre as questões primordiais que colocam as mulheres no centro de diversas violências, mas não mudou o desejo de sempre tensionar as forças do estado patriarcal ao equilíbrio social, que deve permitir que elas possam pautar suas demandas sem a ótica machista.

Foi assim que conquistamos o direito ao voto, o direito ao divórcio, o direito de ser representada por outras mulheres, o direito de estudar, de falar em público, de usar calças, de pintar as unhas e a boca sem correr o risco de ser punida pelas leis.

Ainda que, sim, tenhamos conquistado muitos espaços importantes, da idade média pra cá, nos falta o reconhecimento mais amplo ao direito de não sermos violadas em nossos corpos. Nos falta o direito de não sermos julgadas quando recusamos rótulos limitantes das nossas capacidades. Ainda precisamos gritar para sermos ouvidas e as vezes até morrer para que saibam o quanto nossas vidas ainda valem pouco.

É preciso comemorar as pequenas vitórias, mas não podemos esquecer do que ainda nos é relegado. Precisamos ser reconhecidas como sujeitas autônomas de nossas próprias vidas. O caminho é longo e não há perspectiva de curto prazo para alcançarmos o tal equilíbrio. Como disse Chimamanda “Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar”.

Mulheres não odeiam, pura e simplesmente, os homens, como pregam os desconhecedores do feminismo. Mulheres odeiam a estrutura que nos forma para sermos consideradas seres humanos de segunda categoria, como disse Simone de Beauvoir.

Então, homens não são, num primeiro momento, inimigos, mas sim aliados importantes para que mulheres sejam respeitadas em sua condição de seres sociais, exatamente como eles são. bell hooks diz que quando pensa no femismo pensa enquanto um somatório de forças, afirma ela: “[...] sabia que nunca teríamos um movimento feminista bem-sucedido se não conseguíssemos incentivar todo mundo, pessoas femininas e masculinas, mulheres e homens, meninas e meninos a se aproximar do feminismo”. 

Por isso, sejamos todos feministas porque o feminismo é para todo mundo.

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