O Brasil é uma democracia pulsante. Desde a queda da ditadura militar, em 1985, vivemos o maior período democrático da nossa história, apesar dos impeachments dos ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, que inegavelmente representaram uma ruptura daquilo que pode se chamar de “normalidade” depois da vitória nas urnas de um mandatário, que é a conclusão de seu mandato.
Entretanto, apesar de tais impeachments, que ocorrem num período relativamente próximo à redemocratização, especialmente o de Fernando Collor, podemos dizer que as instituições e os Poderes da República souberam lidar bem com tais eventos e não retrocedemos em nosso regime democrático, apesar da sangria política que todo processo de afastamento proporciona.
Após o impeachment de Dilma Rousseff e o governo de transição de Michel Temer, alguns acreditavam que o Brasil precisava, nas eleições de 2018, eleger um governante pacificador para tentar conduzir o país para mares mais calmos e repensar as soluções para os principais problemas brasileiros. Mas não foi bem isso que ocorreu, tendo o governo do presidente Jair Bolsonaro transcorrido em meio à inúmeras turbulências desnecessárias, na maioria das vezes criadas pelos próprios membros do governo.
Acontece que as inúmeras crises criadas não se deram de forma apenas não intencional. Pelo contrário. Há uma evidente estratégia de comunicação por trás de tantos micros escândalos milimetricamente implantados. Ocorre que tal estratégia pode ser eficiente para fins eleitorais, mas representa uma grande sabotagem para a construção de um projeto de nação, de Estado, pois ao mesmo tempo que ajuda a fidelizar uma parte do eleitorado também ajuda a radicalizar a polarização do país, o que gera a necessidade da criação de um permanente campo de batalha, e isso é péssimo para o ambiente de negócio, além de afugentar novos investimentos, dada a instabilidade política.
Essa instabilidade atinge diretamente o seu Zé e a dona Maria do subúrbio do Rio de Janeiro, São Paulo, Belém e todas as demais cidades brasileiras, e lhes diminui drasticamente a oportunidade de buscar formas dignas de sustento das suas famílias. A estabilidade econômica de um país não costuma ser favorecida com uma guerra política insana deflagrada por uma pequena elite dominante.
Obviamente, não se espera que nenhuma bandeira branca seja levantada entre os grupos políticos que irão rivalizar nas eleições 2022. Entretanto, é possível haver um debate político permanente, mas de alto nível, sobre os assuntos de interesse da coletividade sem que seja preciso achatar setores importantes da sociedade, a começar pelos mais vulneráveis socialmente. É preciso amadurecimento político e boa vontade dos principais agentes políticos do Brasil para que possamos efetivamente alçar o nosso país a patamares sociais muito mais dignos do povo brasileiro.
Seja quem for o governante em 2023, o Brasil precisa urgentemente de um projeto de Estado, mas isso não se alcançará tentando aniquilar politicamente todos os demais agentes que não fazem parte daquele governo de plantão. Construir pontes é necessário, demonstra espírito republicano e o futuro (promissor) do Brasil agradece.