09/05/2022 às 09h29min - Atualizada em 09/05/2022 às 09h29min
Eleições 2022: o maior desafio do estado democrático brasileiro desde o fim da ditadura militar
Desacreditar o sistema de apuração dos votos minando as instituições e o Poder Judiciário são caminhos já percorridos por países que substituíram a democracia por ditadura. As autoridades de bom senso da República precisam reagir eficaz e imediatamente
Indo direto ao ponto, o Brasil está vivendo o momento mais turbulento da sua jovem democracia. A postura ameaçadora de rompimento institucional utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro não deveria ser tolerada pelas demais autoridades da República, nem mesmo pelos seus aliados que não possuem perfil golpista, pois dos radicais não se pode esperar posturas republicanas.
É inadmissível um presidente da República flertar com o rompimento institucional ou democrático como estratégia para agradar seu eleitorado mais radical. Em verdade, quando aliados do presidente permitem que o chefe da nação flerte com o rompimento democrático também estão sendo igualmente coniventes com o desgaste da imagem do Brasil no exterior e do aumento da desesperança do povo brasileiro.
Lamentavelmente, o presidente Jair Bolsonaro utiliza uma tática político-eleitoral extremamente cruel para o povo brasileiro, que é fugir diariamente dos assuntos mais importantes do país por meios de polêmicas que servem meramente como cortina de fumaça para encobrir o alto índice de desempregados no Brasil, o aumento da miséria, a realidade da economia que vai de mal a pior, o custo de vida que se eleva a patamares insuportáveis, especialmente para a população mais carente etc.
A tática de criar várias polêmicas ao longo do dia, todos os dias, faz com que a chamada grande mídia, os portais de notícias e as redes sociais se dediquem a destacar tais polêmicas implantadas pelo presidente, fazendo com que as angústias reais da população sejam ignoradas ou deixadas em segundo plano no noticiário, ou seja, não tendo o destaque que deveriam.
Ocorre que essa tática perversa de criar subterfúgios para não debater os principais problemas do país consegue envolver a população mais carente da sociedade e a induz escolher “um lado” das narrativas estrategicamente criadas, o que a faz torcer pelo grupo político escolhido como se fosse uma torcida de futebol, de forma apaixonada e cega, praticamente anulando a possibilidade de avaliar criticamente cada política pública implementada pelo governo de plantão ou as propostas apresentadas.
Mas há tempos o presidente Bolsonaro adentrou num pavimento extremamente preocupante quando passou a utilizar suas retóricas diversionistas para desacreditar um dos poderes da República (Judiciário) e para desqualificar o processo de apuração das eleições brasileiras.
Não que o presidente e todos os demais brasileiros não tenham o direito de querer buscar sempre maior segurança ao processo eleitoral. Longe disso. Mas a forma maniqueísta e ameaçadora que o mais alto representante da República ataca o poder Judiciário e conduz o assunto da apuração dos votos é, sim, motivo de preocupação.
A estratégia de promover, a conta-gotas, o descrédito das instituições e dos demais poderes de um Estado não é novidade, e em diversas partes do mundo essa atuação resultou na queda de regimes democráticos e a implantação de regimes totalitários, ditatoriais.
No caso brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro já ultrapassou diversas vezes a linha daquilo que poderia ser considerado divergências naturais entre agentes públicos, entre os poderes da República, pois o Judiciário não pode se achar imune às críticas. Acontece que minar propositalmente a credibilidade do sistema de apuração do processo eleitoral pelo qual o próprio presidente Jair Bolsonaro já foi eleito oito vezes, definitivamente, não é algo que possa ser considerado como saudável para o aprimoramento das instituições ou do processo de apuração.
Quando o presidente promove tal estratégia de descrédito atraindo deliberadamente as “forças armadas” para dentro do debate, para algo que não lhe cabe debater, faz o Brasil iniciar a mesma trajetória daqueles países que substituíram a democracia por ditadura. Aliás, os sinais estão claros há tempos, mas como a maioria do povo brasileiro está preocupada em conseguir sobreviver em meio a tantos problemas do dia a dia, a responsabilidade de estancar tais arroubos autoritários deve ser exercia pelas demais autoridades da República.
Quando o presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 não fazia parte do establishment, como ele mesmo repetia incessantemente, e isso não foi impeditivo para que fosse diplomado e tomasse posse no dia 01 de janeiro de 2019. Para que isso ocorresse, bastou receber a maior quantidade de votos nas urnas em relação aos seus concorrentes. Simples assim. E é dessa forma que deve ocorrer em 2022. O candidato que obtiver a maior quantidade de votos leva a eleição e deve assumir em 01 de janeiro de 2023, inclusive o próprio presidente Jair Bolsonaro.
O que não se pode admitir é o presidente da República acreditar que a única vitória possível nas urnas seja a sua. Do contrário, o sistema de apuração eleitoral deve ser considerado não confiável. Esse tipo de preparação de terreno para uma investida não democrática é que deve ser duramente combatido até mesmo pelos aliados lúcidos do entorno do presidente Bolsonaro, pois, independentemente de alianças momentâneas, está se falando de um cenário político (ditadura) que, definitivamente, não interessa à grande maioria da população brasileira.