Quem planta ventania colhe tempestade, e se o Brasil continuar semeando discórdia e ódio na política interna e externa estaremos condenados ao completo isolamento exterior e à barbárie civilizatória interna, pois é nisso que a política armamentista do presidente Jair Bolsonaro resultará, a exemplo do seu amigo Roberto Jefferson, que recebeu a Polícia Federal à bala e granadas.
O Brasil precisa deixar de ser o eterno país do futuro para virar o Brasil do presente, mas isso precisa ocorrer de forma ordeira, sem subversão da ordem constitucional. Não há negociação do nosso regime democrático.
O Brasil vive momentos especialmente tensos. Temos um presidente da República que usa abertamente a mentira como instrumento político para manutenção do poder, pois sabe ele que parte dos seus seguidores acreditará em tudo o que diz, cegamente.
Impressiona ver seguidores privilegiados do presidente, no quesito educação, replicarem e defenderem veementemente inúmeras posturas claramente antidemocráticas, sem qualquer pudor.
O Brasil elegeu um incendiário para apagar os focos de incêndios que o país possuía em 2018 e isso estava fadado a não dar certo. Mas é verdade que muitos votaram no então candidato Jair Bolsonaro acreditando que ele, como Presidente da República, seria diferente de tudo aquilo que ele sempre demonstrou ser, mas Jair Bolsonaro, ao assumir a Presidência, não apenas não se despiu daquela vestimenta antidemocrática como decidiu intensificar seus surtos autoritários.
Passamos 4 anos assistindo um presidente da República criando crises artificiais diariamente, muitas vezes de forma estratégica para criar cortinas de fumaça, desviando a atenção do que realmente interessava para a sociedade, às vezes pelo simples fato de Jair Bolsonaro ser um inepto para ocupar o mais alto cargo da República Federativa do Brasil.
Jair Bolsonaro se demonstrou um agente político extraordinariamente habilidoso para criar autossabotagem. Ao longo de 4 anos de mandato o Brasil não conseguiu identificar um momento de harmonia entre o presidente da República e os demais governantes, mesmo com a chegada de uma pandemia avassaladora, que matava milhares de brasileiros diariamente. Ao contrário, quando governadores e prefeitos suplicaram por uma coordenação central, que deveria ser liderada pela principal autoridade da nação, o presidente Jair Bolsonaro optou por seguir na contramão daquilo que cientistas e autoridades internacionais entendiam como ser o mais adequado.
A passagem do presidente Bolsonaro pela Presidência da República, até aqui, foi marcada por discursos permanentes de ódio; prioridades absolutamente inaceitáveis, como a política de facilitação para aquisição de armas de fogo, num país que possui milhões de pessoas que não têm o que comer; estímulos à violência armada (“povo armado jamais será escravizado”); discursos discriminatórios e machistas (“eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher", “ela queria, ela queria um furo. Ela queria dar o furo”); desmonte de políticas públicas na área de educação; utilização permanente de discursos insinuando ruptura institucional e rebaixamento da respeitabilidade institucional do Brasil no exterior.
O Brasil vai precisar de décadas para recuperar o enorme estrago feito até aqui, mas é preciso iniciar essa reconstrução.
A ampla frente democrática que se criou ao redor do nome de Lula pode não agradar a todos aqueles que rejeitam categoricamente o nome de Jair Bolsonaro para um próximo mandato, mas se esse grupo sair vitorioso da eleição, pelo histórico dos agentes políticos, o Brasil deixará de ter problemas com uma possível ruptura democrática, o que já será um grande avanço para recolocar o país no rumo do desenvolvimento civilizatório.