03/06/2022 às 13h51min - Atualizada em 03/06/2022 às 13h51min

Éder Mauro chama professora de “jumenta comunista” e vira alvo do Parlamento e representantes da OAB Pará

Ouvimos Vivi Reis (PSOL-PA) e Gabrielle Maués (OAB Pará)

Mayron Gouvêa

Ofensas de Éder Mauro contra uma educadora causam indignações em parlamentares e defensores dos direitos humanos (Reprodução: Câmara de Deputados).

Ao chamar uma professora de “jumenta comunista” e defender o “fuzilamento” da educadora por não aprovar uma avaliação aplicada em sala de aula por ela, na qual usava Jesus Cristo como meme, o deputado federal Éder Mauro (PL-PA) cedeu espaço às críticas quanto à declaração feita no dia 1º em meio à reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

 

Sobre a fala de Éder Mauro, o Jornal Pará ouviu a deputada Vivi Reis (PSOL-PA) que estava presente no momento da fala e se diz indignada diante do que foi declarado pelo parlamentar, porque, segundo ela, em primeiro lugar nenhuma mulher deve ser tratada dessa forma. “Ela foi chamada de jumenta, teve o seu trabalho deslegitimado e, nesse caso, o desrespeito é ainda maior por se tratar de uma trabalhadora da educação, mulher, professora”, defende a parlamentar.

 

Ainda segundo a parlamentar paraense, Éder Mauro usou de fake news. “Ele utilizou uma informação que não é correta. A interpretação da imagem usada dizia respeito a uma figura de linguagem, que é a ironia de mostrar a reflexão pras pessoas, porque na época de Jesus, ele mesmo - homem santo que veio salvar o mundo - foi visto como bandido também, e era essa a reflexão sobre quantas pessoas que fazem bem e acabam sendo tratadas como bandidos e bandidas e são colocadas pra morrer, assassinadas, como é o caso do Pará, que é o Estado com maior número de assassinatos de defensores do meio ambiente e dos direitos humanos. Então, a fala desse deputado expressa a política que defende, que é uma política contra os direitos humanos. É um absurdo ele ter falado ainda mais dentro de uma comissão como a de direitos humanos. Eu estava presente e tive a infelicidade de escutar a fala que ofendeu, não só a professora, mas o conjunto das mulheres educadoras”, esclarece.

 

Já a presidente da Comissão e Conselheira Seccional da OAB Pará, Gabrielle Maués salienta que não é de hoje que as falas do deputado são carregadas de misoginia e machismo, porque costuma se referir às mulheres, inclusive colegas parlamentares, de maneira ofensiva. “A declaração é problemática e preocupante, pois reforça a narrativa da naturalização da violência contra a mulher. O fato de ter sido feita na Comissão de Direitos Humanos também acende um alerta – quando falamos de direitos das mulheres, de dignidade, estamos falando de direitos humanos, conforme reconhecido inclusive pelo Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos. Um deputado reproduzir tal declaração, neste ambiente, nos mostra que a violência de gênero permeia todos os espaços, mesmo o público”, destaca.

 

Gabrielle reforça que a OAB possui função social de defesa dos direitos fundamentais, da Constituição, entre outros, e, portanto, atua ao lado da sociedade civil, de forma institucional. A Comissão das Mulheres e Advogadas, por exemplo, executa suas atribuições promovendo advocacy para a implantação de políticas públicas de garantia de direitos das mulheres e realizando conscientização, por meio de campanhas, palestras e outros.

 

“O enfrentamento dessas questões exige, para além de leis (em geral de cunho punitivo), conscientização. A violência contra a mulher é uma realidade na sociedade brasileira, que é normalizada. A mulher é tratada como um ser inferior e, subalternizada, porque a lógica que vigora é a da superioridade masculina. No espaço da política, não é diferente. É fundamental dar visibilidade ao problema, falar sobre machismo e patriarcado, compreender do que se tratam, empregar as teorias feministas críticas para entender como as relações de poder entre os gêneros se desenvolvem de maneira desigual e os impactos disso para as mulheres”, esclarece.

 

O Jornal Pará procurou o deputado Éder Mauro por telefone e por e-mail sobre as questões que foram trazidas pela parlamentar e pela OAB e também para dar espaço à fala do parlamentar enquanto principal envolvido na questão, mas até a publicação desta matéria, não obtivemos resposta.

 

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