Mapeamento nacional da violência contra público LGBTQIA+ revela três assassinatos de pessoas trans no Pará: a última morte foi de uma travesti há exatos 10 dias, na cidade de Castanhal
O monitoramento do 1º semestre de 2022 foi lançado hoje (28) pela Rede de Trans Brasil. Segundo o vice-presidente, em pleno Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, os números demonstram a fobia presente contra esse público no Brasil
Mayron Gouvêa
28/06/2022 18h35 - Atualizado em 28/06/2022 às 18h35
Foto: Redes Sociais
“Esses dados revelam o quanto o nosso país é perigoso para se vivenciar essas identidades do que outros países em que ser LGBTQIA+ é criminalizado”. A fala é do Rafael Carmo, homem trans, que é o fundador da Rede Paraense de Pessoas Trans e vice-presidente da Rede Trans Brasil que monitora, há 6 anos, esse tipo de violência e é pioneira que a violência que é dirigida a população de pessoas travestis, trans e de gênero diverso está ligada a desigualdade social, a violência de gênero e de raça.
“A gente se apropria desses dados para reivindicar dentro dos espaços públicos ações efetivas de mudança social para que essa população de travestis e transexuais seja acolhida de verdade, que tenha sua identidade de gênero respeitada, e não que ela sofra violência apenas por ser quem é”, salienta.
No relatório semestral de assassinatos e violações de Direitos Humanos de pessoas trans, travestis e de gênero diverso no Brasil 2022, os números ainda preocupam essa população. Foram 61 assassinatos, 47 violações de direitos humanos (injustiças, torturas, maus-tratos e outros), 15 tentativas de homicídio e 08 pessoas trans que cometeram suicídio.
“A gente tem outras formas de transfobias que são invisibilizadas como o não acesso ao mercado de trabalho, pelo desrespeito à identidade de gênero ou do nome social. E isso vai fazendo com que essa população tenha esse alto número de violações de direitos que nem sempre são registrados, porque órgãos públicos que não fazem a leitura da transfobia. Então ainda temos essa subnotificação dentro dos dados oficiais”, lembra Rafael Carmo.
No Pará, uma travesti foi morta em 07 de maio a tiros em Parauapebas; uma mulher trans foi esfaqueada dentro de casa em 16 de junho em Tucuruí e uma travesti não identificada foi executada a tiros em Castanhal, no dia 18 de junho - 10 dia atrás.
Conscientização
O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ foi criado no dia 28 de junho de 1969, em homenagem a um dos episódios mais significativos na luta da comunidade LGBTQIA+ pelos seus direitos, a Rebelião de Stonewall Inn. A data representou a revolta contra uma série de invasões da polícia de Nova York (EUA) aos bares que eram frequentados por LGBTs que eram presos e sofriam represálias por parte das autoridades.
Para a Rede Trans Brasil, a finalidade da data é promover a conscientização de toda a sociedade sobre a importância do combate à LGBTIfobia para o desenvolvimento de uma sociedade livre de preconceitos, independente da orientação sexual ou identidade de gênero.
“Quando a gente tem pessoas LGBTQIA+ inseridas em diversos espaços, a gente consegue minimamente ter uma rachadura na LGBTIfobia social, que, infelizmente, nós passamos hoje no Brasil”, esclarece Rafael Carmo, ao enfatizar que durante o dia de hoje uma ação dentro do Tribunal Regional da 8ª região oportunizou, em parceria com Gestor Consultoria e Unipop, por exemplo, o cadastramento de currículos de pessoas LGBTQIA+ em um banco de dados de vagas específicas para a diversidade.