As 500 mil bolsas de estudo são voltadas à formação de jovens em “áreas de atuação altamente demandadas pelo mercado de trabalho", foi o que disse o Google ao anunciar que a distribuição das bolsas segue até 2026. De acordo com a empresa, as bolsas ajudarão na formação de profissionais que darão suporte aos profissionais de Tecnologia da Informação (TI), análise de dados, gerenciamento de projetos e design UX (User Experience ou experiência do usuário).
A empresa pretende destinar duas mil dessas bolsas a pessoas que se autodeclaram transexuais. A expectativa é de que a medida favoreça a inclusão social deste grupo no mercado de trabalho. A pretensão soou como um ar de esperança para quem luta diariamente por um novo caminhar quando o assunto é emprego.
"Atualmente, a Rede Trans Brasil tem trabalhado em cima da questão da empregabilidade e formação de pessoas trans diante da realidade no nosso país pra essa população que é de extrema exclusão social, sobretudo no mercado de trabalho, devido à transfobia. E ver iniciativas positivas como essa que buscam a inclusão da nossa população e acesso a essa informações e cursos é de extrema importância, porque a gente acaba trabalhando uma nova perspectiva de vida. A gente mostra um novo horizonte que mostra que pessoas travestis e transsexuais podem galgar outros caminhos para além da realidade hoje que é o trabalho sexual, que para muitos é algo obrigatório por não ter espaço em outros locais de trabalho", informa Rafael Carmo, vice vice-presidente da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, membro filiado no Pará, e fundador da Rede Paraense de Pessoas.
No Pará, a Rede Trans Brasil vem atuando para construir um plano de atuação de incidência sobre a questão da empregabilidade com reuniões do "Projeto Oportunizar", que é especificamente a atividade da rede que tem trabalhado essa temática em todo o país. De acordo com Rafael Carmo, 29, que é homem trans, quase 90% da população trans do Brasil está fora do mercado de trabalho e há muito a se vencer. "A questão da formação escolar é extremamente baixa por conta da transfobia e consequente evasão escolar. Por isso, a gente espera que mais empresas também tenham esse olhar inclusivo e humanizado de levar as pessoas trans para dentro dos espaços de trabalho ou de formação, porque para tenhamos um público qualificado é preciso iniciativas que formem em um campo específico para funções específicas para que lá na frente elas possam ocupar espaços formais de empregabilidade", levanta.
Empregabilidade trans
Na avaliação do Google, o Brasil tem “aprendido muito com a inserção de pessoas trans nos espaços de mídia e cultura popular”. A empresa utiliza, como exemplo dos avanços observados no país, o respeito aos pronomes e o direito de retificação de nome.
“Temos muito a melhorar, mas, ao menos, alguma evolução já é percebida”, ponderou a empresa ao afirmar que, no que se refere ao mercado de trabalho, não se observa progressão na mesma velocidade.
“Estima-se que 90% da população trans no Brasil têm o mercado informal como fonte de renda e única possibilidade de subsistência. São milhões de pessoas que vivem uma condição de vulnerabilidade extrema devido à falta de uma oportunidade de emprego”, finalizou. Dado confirmado pela Rede Trans Brasil.
Inscrições
Em nota, a Google informou que os jovens que não estão estudando no momento também poderão disputar as vagas. “O processo de inscrição e seleção ocorrerá através do aplicativo do CIEE ONE (plataforma 100% gratuita), e os escolhidos serão acompanhados por uma monitoria exclusiva, que os auxiliará a concluir as certificações”, explicou a empresa.
Todos os cursos foram criados pelo Google e estão hospedados na plataforma de educação da Coursera. “São cerca de 800 horas de aulas, considerando as quatro titulações juntas, com certificação, visando o preparo dos estudantes para ingresso em postos de trabalho no campo em constante crescimento profissional da tecnologia”, acentuou.