11/10/2022 às 18h50min - Atualizada em 11/10/2022 às 18h50min
Brasil está 53% abaixo da taxa de cobertura de mamografia recomendada pela OMS, revela estudo
Pesquisa aponta que após a pandemia o país piorou nos principais indicadores de atenção ao câncer de mama
Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão do jornalista Nelson Nunes.
Divulgação/Sociedade Brasileira de Mastologia Dados apontam que no ano passado, o Brasil registrou a menor taxa de cobertura mamográfica para mulheres entre 50 e 69 anos, atingindo a marca de 17% de alcance, ainda menor que em 2019, quando o percentual era de 23%. Esse e outros indicadores preocupantes foram levantados pelo Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde, que avaliou procedimentos de detecção e tratamento da doença entre 2015 e 2021. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 70% da população feminina a partir dos 40 anos realize o exame anualmente. No Brasil, a faixa etária rastreada está restrita ao grupo entre 50 e 69 anos
Idealizado pelo Instituto Avon (organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos fundamentais das mulheres) e pelo Observatório de Oncologia, com base no DATASUS, o estudo analisou dados de rastreamento mamográfico, a taxa que mede a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em atender a população alvo de exames de rastreamento de câncer de mama, os índices de diagnósticos e acesso aos tratamentos no Brasil.
O objetivo da análise é de colaborar com políticas públicas de saúde que visem a descoberta precoce, o acesso rápido às terapêuticas e a tomada de decisões baseadas em evidências.
Entre 2015 e 2021, mais de 437 mil mulheres realizaram procedimentos quimioterápicos no país. A pior taxa de cobertura mamográfica pertence ao Distrito Federal -- DF, chegando a apenas 4% no período analisado. Seguido pelos estados brasileiros do Tocantins, Acre e Roraima com só 6%.
Diagnóstico e tratamento
A pesquisa apontou também que entre 2015 e 2021, os diagnósticos avançados da doença no Brasil representaram 42% dos casos. Em 2020, especificamente, chegamos a 43% dos casos avançados que receberam os procedimentos de tratamento no ano e em 2021, a 45% do total de casos de mulheres que receberam os procedimentos de tratamento nos estágios III e IV. O volume é alto e toma proporções maiores na análise dos estados, como por exemplo, Acre, Pará e Ceará contabilizam mais de 55% dos tratamentos em estágios avançados da doença no período.
Entre as mulheres que fizeram quimioterapia em 2021 para câncer de mama, 45% delas receberam o diagnóstico em estágio avançado, representando 157 mil casos em estadiamento III e IV. Mais de 28 mil brasileiras fizeram radioterapia para o câncer de mama nas mesmas fases da doença.
Mais de 60% de todas as mulheres diagnosticadas no país iniciaram as terapêuticas após o prazo que determina a Lei 12.732/12, que garante às pacientes o início do primeiro tratamento em até 60 dias a partir da confirmação do câncer. O tempo médio no país em 2020 foi de 174 dias entre a confirmação do diagnóstico e o início do primeiro tratamento. As pessoas esperaram 114 dias a mais do que o previsto na lei para iniciar seus tratamentos.
Perfil étnico racial
Na análise de perfil étnico racial, a principal constatação é de que mulheres negras correspondem a 47% dos diagnósticos avançados, enquanto apenas 24% dos exames de imagem das mamas foram realizados neste público. Os resultados para mulheres brancas foram de 37% das mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o resultado de diagnósticos avançados também apresenta melhores números nesta população - 39%. Portanto, ainda percebemos importantes diferenças na atenção ao câncer de mama quando refletimos sobre as diferenças entre mulheres brancas e negras.
Nota Metodológica: O estudo foi realizado a partir dos dados publicados no DATASUS e algumas bases apresentam números atualizados até 2020 enquanto outras já trazem informações até 2021.
O levantamento Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde pode ser acessado na íntegra aqui.