21/04/2022 às 16h58min - Atualizada em 21/04/2022 às 16h58min

​Tensão no Pará

Conflito entre empresa BBF e cerca de 250 lideranças indígenas Tembé, Turiuara e quilombolas O cenário é guerra: tiroteio, ônibus incendiados e muita tensão.

Mayron Gouvêa

Nesta quinta-feira (21), funcionários da empresa Brasil Biofuels que produz óleo de dendê, nas regiões do Acará e Tomé-Açú, no Baixo Tocantins do Pará, ficaram assustados com tiros que foram disparados na entrada dos portões da área de produção da empresa para dentro. Segundo funcionários, cerca de 30 homens estavam encapuzados teriam dado tiros de escopeta. “Nós estamos com dez seguranças lá. Não são indígenas, a gente sabe disso, entendeu? Eles estão atirando nas caixas, estão invadindo lá, agora, neste momento. E se a gente não fizer nada agora, a gente vai ter prejuízos. A situação está caótica. Vão atirar no nosso pessoal e pode ter morte hoje. Tem que parar, tem que tirar o pessoal de lá, porque é vidas, né?”, disse o funcionário que não quis se identificar.

Além dos disparos com armas pesadas, segundo os funcionários que também se defenderam com revólveres - como é possível ver no vídeo postado no instagram do Jornal Pará - pelos menos três ônibus que transportam os funcionários foram incendiados.


Apesar da defesa do funcionário em relação aos indígenas, a liderança índigena, Paretê Tembé, que faz questão de se colocar à parte de qualquer liderança do movimento, garante que a invasão às dependências da empresa BBF foram realizadas por cerca de 250 homens das etnias Tembé e Turiuara, aliados a integrantes de quilombos da região. “Eu estou doente e, por isso, eu nem posso estar lá, mesmo assim estou sendo acusado. Sei que a situação está tensa. O protesto se refere às perseguições da empresa contra nossa comunidade. Todo dia é bala por aqui. O movimento é de resistência. Aqui a gente corre risco de morte pelo pessoal da empresa que contratou uma milícia armada para invadir nosso território. Eles chegaram a dizer que iam queimar uma indígena viva”, revelou a liderança.

De acordo com Paretê, os conflitos começaram há 12 anos, desde a chegada da empresa BBF à região. Ele afirma ainda que não estaria obedecendo uma decisão judicial que impede a continuidade das atividades. No vídeo abaixo, você confere outros motivos da revolta das lideranças indígenas e quilombolas.



Posicionamento da empresa



A Brasil BioFuels (BBF) informa que nesta madrugada sete caminhões da empresa com carga de dendê foram furtados da fazenda EIKAWA que pertence a BBF, em Tomé Açu. Um boletim de ocorrência está sendo registrado na delegacia do município por representantes da empresa.

A BBF também presta queixa em outra delegacia, desta vez no Acará. Pela manhã, a Sede da BBF foi invadida por 50 pessoas encapuzadas que intimidaram funcionários atirando para todos os lados e causando pânico entre os colaboradores. Os invasores incendiaram 3 ônibus, vários carros, destruíram tratores, maquinários e depredaram o imóvel da empresa. Todos os bens que eles não destruíram acabaram por roubar. Levaram vários tratores, computadores e outros materiais da sede e dos alojamentos. 

Os invasores, que se identificam como indígenas, são liderados por Paratê Tembé, Lúcio Tembé e Raimundo Silva e Silva, eles ocupam neste momento a Sede do polo industrial da empresa e a fazenda EIKAWA . 

A BBF aguarda a intervenção das autoridades de segurança, que já foram solicitadas, desde às 8 horas da manhã, para a desocupação da propriedade e manutenção da segurança dos colaboradores.
 
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (SEGUP) informa que a Polícia Militar deslocou para a região de Acará tropas do Comando de Missões Especiais da Capital, além das tropas de Tomé-Açú e Abaetetuba para conter a situação. A SEGUP destaca ainda que, por meio da Polícia Civil, o caso está sendo acompanhado pelas Delegacias dos municípios de Tomé-Açu e Acará, com o apoio das superintendências regionais locais. Diligências estão sendo realizadas para ouvir as partes envolvidas e coletar informações sobre o ocorrido. A SEGUP ressalta que todas as medidas legais serão tomadas, dentro das suas atribuições, por parte das forças de segurança, para garantia da ordem pública e resolução do caso, salvo fatos de atribuição específica das forças federais.

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