O casal Sônia Miranda e Walter Ariel vende hortaliças há quase 30 anos na feira da Tavares Bastos, no bairro da Marambaia, na capital paraense. Os dois garantem que nem o auge da pandemia foi tão ruim para as vendas. E isso porque hortaliças, verduras e legumes estão bem mais caros. “Hoje, se tu não tiveres mil reais para comprar só um pouco de coisa para revenda, tu deixas de trabalhar. Está complicado até para ser feirante. A gente está quase para deixar de existir. Veja que é só essa nossa banca que tem aqui e algumas para ali. Com os preços tão altos, o consumidor não quer comprar. A gente está vendendo menos da metade do que vendia até o fim do ano passado. Estamos com medo”, alertou Sônia.
O Walter confirmou o que disse a companheira. Segundo ele, a cenoura continua sendo a grande vilã. “A gente comprava uma quantia por cem reais, hoje a gente chega a pagar quase duzentos. Estamos preocupados”, reforçou.
Segundo pesquisas semanais feitas pelo DIEESE/PA, com balanço divulgado nessa sexta-feira (08), a maioria dos produtos hortis (hortaliças, verduras e legumes) comercializados em feiras livres e supermercados da grande Belém, tiveram crescimento de preços no mês passado (Mar/2022) em relação ao mês de fevereiro deste ano.
O levantamento de março atestou que a cenoura apresentou a maior alta dos preços. O vegetal subiu 51,97%, seguido do repolho com alta de 29,52%; chuchu kg (23,22%); beterraba kg (20,65%); batata doce branca kg (13,04%); quiabo kg (10,21%); batata lavada kg (10,14%); alface maço (9,21%) e feijão verde março com subida de 8,74%.
O balanço revela também que, de janeiro a março de 2022, os produtos hortis apresentaram alta superior à inflação calculada em torno de 2,00% (INPC/IBGE). Os maiores reajustes de preços ocorreram nos seguintes tipos de produtos: cenoura com alta acumulada de 165,56%; repolho kg (47,98%); beterraba kg (45,37%); chuchu kg (35,77%); cebola kg (34,63%); batata lavada kg (29,91%); batata doce branca kg (18,18%); feijão verde maço (13,71%); maxixe kg (13,68%) e alface kg (10,67%).
Jucicléia Ferreira, 37 anos, Assistente Administrativa e moradora da Marambaia, conta que para comprar legumes e verduras é preciso escolher o que levar pra casa, e quem dita o que entra na alimentação é o preço. "A cenoura está com um preço assustador, impossível. Justamente por isso, a gente diminuiu o consumo em casa", revela.
Conforme o professor de economia, Rosivaldo Batista, especialista em abastecimento alimentar para a América Latina, um estudo sobre sazonalidade revela que, entre os meses de fevereiro e junho, esses produtos entram na entressafra por conta das chuvas nas principais zonas produtoras do país, o que provocaria a elevação dos preços. “Importamos em média de 75% a 80% de outras regiões do Brasil produtos hortis e frutas com a consequente elevação de preços. Neste ano, temos um problema a mais: o custo de transporte devido ao alto preço dos combustíveis”, explicou.
Apesar de poucos, alguns hortis apresentaram baixa nos preços, com destaque para o maço de cebolinha, com queda de 1,75%, seguida da Alfavaca maço com redução de 1,65%.