Da mesma forma que o sarampo voltou a fazer vítimas depois de cinco anos erradicado em nosso país, também há risco do retorno da poliomielite, que teve o último caso registrado em 1989. O alerta é de especialistas em saúde pública que acompanham com preocupação a queda nas taxas de vacinação no Brasil, e o surgimento de novas infecções em outros países.
A cobertura vacinal ideal recomendada pela Organização Mundial de Saúde é de 95% do público-alvo, e ela foi alcançada no Brasil entre 1998 e 2016. Contudo, de 2017 para cá, a taxa vem caindo ano a ano para níveis preocupantes. Em 2021, apenas 74% das crianças foram imunizadas, o que significa que uma em cada quatro corre o risco de ser infectada, caso a pólio ressurja no país.
A coordenadora do projeto Observa Infância, que monitora mortes evitáveis de crianças no Brasil, Patrícia Boccolini, reforça que “a doença só foi erradicada com a vacinação em massa, isso já demonstra que a vacina é indispensável para manter o país livre da pólio”.
Segundo o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Fernando Verani, atualmente, apenas o subtipo 1 do vírus da pólio ainda existe no mundo, de forma selvagem, e somente em regiões do Paquistão e do Afeganistão. No entanto, com o trânsito entre os países, casos importados foram detectados, neste ano, em Israel e no Malawi, o que acendeu o alerta das autoridades de saúde.
Apesar da maior parte dos casos ter sido assintomática, Verani relata que pelo menos uma menina de 3 anos, que vive no país africano, já apresentou sequelas e adquiriu paralisia por causa da doença.
Para o pesquisador, além da sociedade ter uma falsa sensação de segurança absoluta, “muitos médicos mais jovens não sabem identificar os sintomas, pela falta de prática. As autoridades brasileiras precisam reforçar a vigilância epidemiológica, para responder imediatamente, se algum caso suspeito for reportado”, alerta Verani.
Cobertura da poliomielite no Pará
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que a aplicação da vacina é de responsabilidade dos municípios. A Sespa ressalta que, mesmo assim, tem combatido a queda da cobertura vacinal registrada nos últimos anos com a elaboração de alertas para o risco iminente do retorno da doença; treinamentos de profissionais de saúde para detecção oportuna de casos suspeitos, e também, para a importância da vacinação de crianças menores de cinco anos; além de campanhas educativas nas redes sociais.
A secretaria revela que a cobertura vacinal da poliomielite, em dados consolidados do ano de 2021, é de 55,45%.
Sarampo também é uma preocupação para especialistas
Em relação ao sarampo, os dois especialistas concordam que a experiência com a doença, que também é provocada por vírus, deve ser encarada como um grande alerta do que não fazer. Importa esclarecer que, entre 2018 e 2021, depois de perder o selo de erradicação da doença, o Brasil registrou quase 40 mil casos de sarampo, com 40 mortes, sendo 26 crianças. Ainda assim, apenas 53% das crianças tomaram as duas doses da vacina tríplice viral, que protege também contra a caxumba e rubéola, no ano passado.
Em Belém, no mesmo período, a cobertura foi de 28,83% contra uma cobertura de 49,33% em 2020, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Para o ano de 2022, a meta da capital paraense é vacinar 75.159 crianças dos 6 meses até os 4 anos, 11 meses e 29 dias. Até o momento, a Sespa conseguiu imunizar apenas 6,16% com 4.627 doses aplicadas.
Válido ressaltar que a Sesma está em campanha também contra o sarampo, na capital paraense. A scrianças na faixa etária informada acima e os trabalhadores de saúde são público-alvo da doses contra o sarampo. Mais detalhes sobre a campanha municipal de vacinaçaõ, confira aqui.